
Vou começar esse texto fazendo uma pequena introdução:
Somente cerca de 10% das gestações são ou serão consideradas de alto risco. E na prática só essas gestantes precisariam de um acompanhamento mensal (e depois quinzenal e semanal) como o que temos no chamado pré-natal.
MAS ENTÃO PARA QUE SERVE O PRÉ-NATAL?
Essa série de consultas e exames serve justamente para triar quem são as gestantes de baixo risco e quem são as gestantes do grupo dos 10% de alto risco. Sendo essas as que deverão sofrer alguma intervenção em prol à sua saúde ou do bebê.
É durante o pré-natal que será possível antecipar problemas e até definir a hora certa de induzir o parto, se esse for o caso, para poder evitar uma cesárea.
Aliás, o pré-natal na realidade, foi criado majoritariamente para evitar a cesárea!
Em sua origem, a cesárea foi criada para retirar bebês que eram muito grandes e que não teriam passagem pelo canal vaginal. Além de bebês que passavam por algum tipo de sofrimento intra útero (como insuficiência placentária). E o pré-natal foi a forma encontrada de avaliar o tamanho e saúde dos bebês durante a gravidez e antecipar o parto com indução. Por isso digo que o pré-natal surgiu para prevenir cesáreas e não para marcá-las.
Mais uma das inversões da obstetrícia.
Veja bem, não estou dizendo que a cesárea não é necessária.
Pelo contrário, é uma cirurgia incrível, que salva muitas vidas, mas é sim uma intervenção muito grande que deve ser utilizada apenas quando necessária.
70% das mulheres que fazem pré-natal o fazem como se fosse um seguro de carro: fizeram e não usaram, porque não houve necessidade e esse processo não mudaria nada durante a gestação.
Os outros 30% têm alguma correção a ser feita no pré-natal, de emocional à patológica. E podem ajustar coisas simples, como uma anemia ou suplementação de vitaminas.
Ou até problemas sérios, passíveis por exemplo, de cirurgias ainda no útero.
Dessas 30% que precisam de alguma intervenção, só 10% terão de fato uma gestação de alto risco. Ou seja, basicamente as mulheres com hipertensão ou diabete gestacional.
E esses são os dois pontos-chave do pré-natal e a razão para ele existir.
O pré-natal deveria, portanto, servir para o acompanhamento de gestantes de alto risco: aquelas com hipertensão e insuficiência placentária (o que pode levar a problemas respiratórios do bebê) e aquelas em que há liberação de fatores anti-insulímicos, causando diabete gestacional e fazendo com os bebês fiquem grandes demais.
Em um cenário futuro essas gestações de alto risco teriam prioritariamente um acompanhamento com o médico obstetra, enquanto as demais poderiam ter a maior parte do pré natal ou ele todo, realizado por Obstretrizes ou Enfermeiras Obstetras.
O pré-natal hoje em dia, além de ter como foco evitar cesáreas, acompanhando a saúde da mãe e bebê, também tem o cunho de reconectar a mulher com seu próprio corpo, ciclos e instintos.
É o período que a mulher tem para se fortalecer e empoderar para o parto.
O parto é um ato fisiológico, mas também emocional. E o pré natal é um aliado nisso.
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